Tangará da Serra

Academias populares: “É preciso que tenhamos instrutores que coordenem, que organizem e deem aulas nesses espaços”, defende professor de educação física

Clairton José Weber

Os espaços físicos dotados de infraestrutura para a prática de ginástica e atividades corporais são parte do programa Academia da Saúde do Governo Federal e já alcançam praticamente três mil municípios em todo o país. Em Tangará da Serra essas academias ao ar livre já estão funcionando. Os equipamentos são novos e foram implantados em pontos estratégicos de forma a atender moradores do centro, bairros e regiões periféricas. Os objetivos do programa são louváveis: promover práticas corporais e atividade física, alimentação saudável, educação em saúde, apenas para citar alguns.

Ocorre que os equipamentos por si só não fazem isso, tampouco a frequência assídua das pessoas aos espaços públicos. Para alcançar objetivos como esses é de se supor a participação de profissionais da área, promovendo e orientando essas práticas saudáveis.

Uma das mais influentes vozes das academias tangaraenses, Alexandre Paulo Gomes, 44, cobrou maior participação dos professores de educação física nas academias esportivas que vem sendo instaladas no centro e periferia de Tangará da Serra. Segundo ele, o município dispõe de profissionais com qualificação acadêmica para desenvolver esse trabalho. Ele defende a participação efetiva dos educadores organizando aulas ao ar livre, sem custos para a comunidade.

            Mestre Paraná, como é conhecido, anunciou também a realização de um grande evento de capoeira, com batizado e verificação de nível dos praticantes, para o início de novembro, no Salto das Nuvens.

O profissional de educação física está valorizado atualmente?

Paraná: A valorização do profissional de educação física hoje está melhorando; nós fomos muito desvalorizados no passado. Inclusive hoje os próprios profissionais estão começando a se valorizar e através disso a profissão começa a ser valorizada. Neste sentido é importante que nós profissionais da Educação Física façamos um trabalho de primeira, um trabalho que todos percebam que foi feito com vontade, com dedicação. Então sim vamos ter a valorização que almejamos.

Quais são os grandes desafios desta profissão?

São muitos, mas o maior deles é a falta de fiscalização. Nós temos muitas pessoas trabalhando na área sem estar regularizadas, sem estar habilitadas. Isso acaba atrapalhando muito os profissionais que estudaram, que se especializaram, que fizeram todo o processo para ter sua carteira do CREF – Conselho Regional de Educação Física e consequentemente estão aptos para desenvolver o trabalho.

Você considera a formação acadêmica importante?

Paraná: É essencial. A faculdade te dá uma base e as formações posteriores é que vão realmente abrir um campo maior de conhecimento, por isso que é importante você estar sempre estudando, não apenas na área de Educação Física. Isso realmente é muito importante.

Há diferenças entre profissionais da área de educação física? Especialidades, por exemplo?

Paraná: Há diferenças. A formação em educação física, digamos assim é uma graduação. Quando você começa a se especializar você aumenta o conhecimento naquela área, naquele fundamento. Então isso, no fim das contas vai trazer uma qualidade maior ao aluno que você está atendendo. E é o que o aluno está procurando; ele quer um especialista no problema dele. A recuperação de traumas, por exemplo.

O que você acha que está acontecendo com esta geração que não tem mais tanto interesse pelas atividades esportivas?

Paraná: Pois é. Eu tenho filhos e infelizmente a gente convive com isso. Eles não querem mais praticar. […] não só educação física, mas até as brincadeiras que tínhamos antigamente. Bets, futebol na rua, para citar alguns. Nossa geração fazia educação física brincando. Isso eles não querem fazer. Querem ficar no computador, no celular, navegando ou envolvidos com os jogos de videogame. O lúdico hoje não tem e isso faz muita falta.

Existe uma idade mais apropriada para praticar esportes?

Paraná: Não, porque desde a barriga da mamãe nós já praticamos esportes. Toda a movimentação, todo o movimento corporal é uma atividade física.

De uma maneira geral, quais seriam os benefícios para quem pratica esportes?

Paraná: Os benefícios são muitos, sem sobra de dúvidas. A importância da atividade física na vida do ser humano é muito grande. Desde a época das cavernas nós praticávamos educação física. Quando o homem saiu para pescar ele teve que aprender a nadar. Quando correu atrás da caça ele teve que ter boas pernas. Inclusive não é só o ser humano que pratica atividade física, o cachorro, o cavalo, enfim, a tecnologia evolui, se faz presente, mas a atividade física básica sempre acontece, permanece.

O que você diria a respeito dos espaços públicos que estão sendo instalados em vários pontos da cidade que servem para a prática de atividade físicas?

Paraná: Estes são importantíssimos. Contudo, nestes espaços é preciso que tenhamos instrutores que coordenem, que organizem e deem aulas nestes espaços. Nós temos profissionais aqui no município que podem fazer isso. Os espaços são ótimos, os equipamentos e a própria localização, no bairro, próximo das pessoas, só que precisa alguém para instruir as pessoas.

E sobre a escola de capoeira?  Como estão os trabalhos?

Paraná: Apesar das dificuldades financeiras, de apoio, esse ano foi maravilhoso. Aqui em Tangará da Serra nós atendemos cerca de trezentas pessoas. A maioria dos nossos alunos são moradores de bairros periféricos, ou seja, fazemos um trabalho de inserção social. Eu trabalho também com adultos, mas o foco são as crianças. Para fechar o ano com “chave de ouro” teremos um encontro nacional aqui em Tangará da Serra no dia 9 e 10 de novembro, no Salto das Nuvens.

Para concluir, você se sente um profissional realizado?

Paraná: Sim. Apesar de todas as dificuldades que tive no passado, que todo o profissional que está iniciando tem. Me sinto realizado, eu amo o que faço. E isso é importante. É importante amar o que está fazendo. É preciso gostar, se doar aquilo que a gente faz. Eu tenho plena certeza do que eu faço e não pretendo mudar, ou seja, continuar com a capoeira e a educação física.

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