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Vale do Sol e Morada do Sol: confusão no nome e problemas parecidos

Jorge Félix

O que identifica um lugar? O nome, as pessoas, suas histórias, características físicas e por aí vai. Andando por dois bairros de nomes semelhantes em Tangará da Serra ouvi histórias de como, muitas vezes, esses bairros são confundidos. Essa confusão gera problemas como a pizza que se atrasa, as compras que demoram e o remédio que quase não chega. Vale do Sol e Jardim Morada do Sol são distantes geograficamente, mas por um detalhe no nome faz com que alguns acreditem ser o mesmo lugar. O que gera transtornos para quem vive nesses locais. Mas não é apenas no nome que esses bairros são parecidos, os problemas que encontramos por lá e as queixas dos moradores são bem semelhantes.

Percorri esses dois bairros a fim de observar as proximidades existentes entre esses lugares. Os locais ficam a cerca de cinco quilômetros de distância um do outro, em Tangará. Ao chegar à cada um dos bairros percebi já a falta de asfalto em algumas ruas e, nas ruas asfaltadas, muitos buracos. Segui andado com o objetivo de falar com os moradores. Escutei várias pessoas comuns que contaram diversas histórias e revelaram os problemas vividos em seus bairros.

Meu ponto de partida foi a Rua 44, no Vale do sol, dobrei a primeira esquina na Rua 15 e segui em direção a Estrada Mituo. No caminho, pude perceber muitas casas, aparentemente, novas e que, naquela parte do bairro, está com o asfalto em estado razoável de conservação. O problema começou quando, no final da rua, virei à esquerda. Era o começo da segunda parte do bairro, um local com muitas chácaras e sítios, uma extensa região de pasto de um lado e lama, muita lama do outro. As poças mais pereciam pequenas lagoas ou regiões de alagamento. Os veículos que se atreviam a passar ficavam em parte submersos pela água. Eu tive que me espreitar pelos cantos para escapar do que seria um desagradável banho de lama.

Vale do Sol

Seguindo para o lado oposto da Rua 15, atravessei a 26 e a Avenida Tancredo Neves, cruzando o Parque das Mansões, por fim, cheguei na Avenida Nilo Torres. Subi pela direita e depois de algum tempo estava na Rua R. Já no Jardim Morada do Sol me dei conta de que a situação precária de infraestrutura das vias se estendeu por todo trajeto. Na entrada do bairro, percebi que não seria surpreendido com algo diferente, os problemas se repetem, assim como no Vale do Sol, estão todos os outros locais mencionados.

O Vale do Sol é um bairro antigo que foi se desenvolvendo de acordo com o crescimento da cidade. Basicamente se divide em três partes que, com a reorganização territorial, ficaram com nomes diferentes. Lá encontrei, varrendo a calçada, a dona de casa Sonizia Fátima Pereira que, logo alegou se incomodar com a água que empoça junto ao meio-fio. Ela vai pagar para fazer uma calçada em parte da rua para tentar diminuir o problema. O acumulo de água da chuva tem cerca de três metros e é provocado pela curvatura excessiva do asfalto. “Isso aqui está uma vergonha, a gente não pode limpar a casa que, quando entramos ou saímos, enche de lama”, reclama Sonízia.

Já no outro lado da cidade, no Jardim Morada do Sol, conversei com outra moradora que tem dificuldade semelhante. O bairro tem algumas ruas com muitos buracos e, no período de chuva, fica difícil para a moradora manter a casa limpa. “Na época da chuva é complicado passar por algumas ruas que ficam com muita lama, muitas ruas são mal iluminadas, aí tem a questão da insegurança para quem vive no aqui”, disse a dona de casa.

Jardim Morada do Sol

Os postes com lâmpadas queimadas, também têm protagonismo na fala de quem está no outro ponto da cidade, aproximando ainda mais seus moradores. Já era noite, notei que havia alguém na estrada de uma casa, no escuro devido a má iluminação da rua. Era Cícero Bispo dos Santos que mora no Vale do Sol há 12 anos e, apesar de gostar de onde mora, reclama da lâmpada queimada no poste. Mesmo com problema, o pedagogo acredita que o crescimento do bairro valorizou os imóveis. “Se eu soubesse não tinha vendido, agora o bairro está maior e as casas valorizaram. Na época, aqui era distante de tudo, mas agora tem bastante coisas logo aqui do lado”, lamentou Cícero, arrependido por ter vendido parte do terreno anos atrás.

Todas pessoas com quem falei tem uma história com sobre a confusão que se faz entre os nomes dos bairros e essa, vem do Jardim Morada do Sol. A cliente de um supermercado pediu para entregar suas compras que não chegavam, irritada com a situação, ligou para reclamar e descobriu que o entregador havia ido, por duas vezes, ao Vale do Sol e não encontrava o endereço. No entanto, a estudante Priscila Alves de Moraes diz que os residenciais que se que se formaram ao redor do bairro como Madri, Valencia I e II são organizados e bem pavimentado. Ela gosta de morar ali, bem diferente do seu Pedro, do Vale do Sol.

Caminhando também pela estrada do Mituo, no Vale, e vi um carro gol, antigo, tentando atravessar uma enorme poça de lama, ficando submerso até a metade. Fui falar com os homens estavam no carro e conheci um senhor que disse morar na cidade há muitos anos e não se sente bem com a situação. “Eu me sinto envergonhado de morar em Tangará, nós não aguentamos mais, a prefeitura esqueceu de nós. Todo ano é a mesma coisa”, afirmou o aposentado.

Vi que Francisco Menezes,o passageiro de Pedro, balançava a cabeça concordando com tudo que ele dizia. Enfim manifestou sua insatisfação com a falta de pavimentação. Alegou que se passassem uma “máquina” no local, já ajudaria a minimizar o problema. Menezes diz mora no bairro há 40 anos e que nem sempre foi assim. “Há muitos anos atrás, quando eu trabalhava na prefeitura, não era assim. Eles davam mais atenção pra cá”, falou o aposentado. A falta de iluminação pública também é uma queixa de quem mora naquela região. Aquela metade do bairro é bem diferente do resto. Muitas chácaras e sítios compões uma extensa região, com muitas árvores e estrada de chão.

A sensação de insegurança é outra das coisas que liga os bairros. Todo mundo conhece alguém que já teve a casa invadida. O mecânico Felipe Cruz Ferraz, conta que um vizinho teve a casa arrombada enquanto a família estava fora. Como os objetos furtados não eram de valor não fizeram boletim de ocorrência. “Os caras reviraram a casa do pessoal toda, um absurdo”, lembrou.

No bairro Jardim Morada do Sol pude observar que a rua H, que é a principal, tem muitos buracos. Outras ruas ainda são de terra, aumentando a dificuldade.  Os caminhos até as casas requerem mais cuidado, por ficarem mais escorregadios. “A gente tem que tomar cuidado para não cair na lama quando passa por essas ruas de moto, fica difícil trabalhar desse jeito. Atrasa as entregas”, contou o entregador, João Carlos dos Anjos. Bem-humorado, ele afirma que nunca errou o caminho. Percorrendo por esse trajeto podemos ver que moradores Vale do Sol e Morada do Sol passam pelas mesmas questões com infraestrutura, segurança e sentimento de abandono por parte do poder público. Bairros coirmãos não só pelo sobrenome, habitados por pessoas alegres, que enfrentam as demandas parecidas do dia a dia.

(Texto produzido na disciplina de Reportagem, Entrevista e Redação 02, no primeiro semestre de 2019)

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